De desacreditado a campeão: o primeiro título brasileiro (na raça) do Timão em 1990

09/05/2016 06h32

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A trajetória do Corinthians em busca do sétimo título brasileiro da história do clube em 2016 começa neste domingo (15). Mas essa caminhada teve início há pouco mais de 25 anos. Foi em 1990, quando o Timão conquistou a primeira das seis conquistas, com um time que sabia bem das limitações que tinha, mas nunca deixou de acreditar nas vitórias e lutava até o fim pelo sucesso. A raça alvinegra era bem traduzida naquele grupo.

Sem títulos brasileiros até 1990, o Corinthians não era apontado como um dos favoritos naquele ano. Imaginava-se que equipes como São Paulo (vice-campeão brasileiro em 1989), Vasco (campeão brasileiro em 1989) e Bahia (campeão brasileiro em 1988), por exemplo, tinham mais chances do que o Alvinegro.

O elenco do Timão no Brasileirão 1990 tinha muitos filhos do terrão. Ronaldo, Marcelo Dijan, Márcio Bittencourt e Wilson Mano eram alguns dos garotos que saíram da base alvinegra para despontarem no time titular. A eles, somavam-se jogadores experientes, com bagagem em partidas decisivas, para darem mais cancha à equipe. Um deles era Neto, que despontou no Guarani e tinha acabado de chegar do rival Palmeiras.

A base do Corinthians em 1990 foi montada com o goleiro Ronaldo, Giba e Jacenir nas laterais e Marcelo Dijan e Guinei formando a zaga. Na frente dos zagueiros, Marcio Bittencourt e Wilson Mano -- quando não era utilizado como coringa -- faziam o primeiro combate. Neto era o cérebro, o armador. Nas pontas, Fabinho e Mauro. Paulo Sérgio era o atacante, com Tupãzinho aparecendo bastante como o 12º jogador. O elenco também tinha outro filho do terrão que fez história no clube do Parque São Jorge: Dinei. Todos comandados por Nelsinho Baptista, que havia se destacado ao treinar o Novorizontino vice-campeão paulista no primeiro semestre daquele ano.

Em 1990, o Brasileirão era disputado com uma fase de classificação que levava para o mata-mata -- quartas de final, semifinais e final. Mas na parte inicial da competição, as 20 equipes participantes eram divididas em dois grupos de 10, com dois turnos. No primeiro, os integrantes de um grupo enfrentavam o do outro, e o primeiro colocado de cada se classificava para as quartas. No segundo, todos contra todos dentro da chave. Novamente, quem terminasse como líder garantia vaga para o mata-mata. Os oito classificados eram completados com mais quatro times por índice técnico, somando os dois turnos.

O início da campanha do Corinthians não foi animador, com um empate e duas derrotas. Mas a partir da quarta rodada, com uma vitória sobre o Palmeiras por 2 a 1, o Timão cresceu no primeiro turno, com seis triunfos e um empate em sete jogos consecutivos. Só que esse desempenho não foi suficiente para garantir a vaga nas quartas de final de forma antecipada. O Alvinegro do Parque São Jorge terminou na segunda posição, atrás do Atlético-MG.

Havia mais uma chance no segundo turno. Porém, o desempenho contra as equipes do outro grupo não foi bom. Duas vitórias, quatro empates e três derrotas, que deixaram o Corinthians na nona posição da chave. No fim, o que ajudou o Timão foi a performance no primeiro turno. Com a quarta e última vaga pelo índice técnico, o Coringão partiu para as quartas de final, em que enfrentaria o Atlético-MG em dois jogos.

No mata-mata, tudo se iniciava do zero. O que foi feito antes só valia para uma eventual vantagem ao fim do confronto. Mas alguns dias antes, o Corinthians havia vencido o Atlético-MG por 3 a 1 fora de casa. No jogo de ida, no Pacaembu, o time mineiro abriu o placar. Porém, surgiu a estrela de Neto. Conhecido por ser mortal na bola parada, o meia empatou com uma arma pouco usual: a cabeçada. Depois, virou o placar com uma sobra que pegou em cheio para estufar as redes. A vitória dava ao Timão a possibilidade de empatar o duelo de volta, em Belo Horizonte. Foi o que aconteceu: 0 a 0, e vaga nas semifinais.

Na fase seguinte, o adversário foi o Bahia. Novamente, a partida de ida foi no Pacaembu e teve sofrimento para a Fiel. O time baiano abriu o placar logo aos dois minutos. A virada só veio no segundo tempo. O primeiro gol foi contra, de Paulo Rodrigues. A vitória foi consolidada com uma das marcas do Corinthians de 1990: as faltas cobradas por Neto. Mais um golaço do camisa 10, que deixou o Timão a um empate da final. Dito e feito. Mais um 0 a 0, dessa vez no jogo de volta em Salvador-BA. Faltavam dois passos para a glória.

A final seria o clássico contra o São Paulo, com o rival sendo considerado favorito ao título. Cenário absolutamente conhecido de todos, já que o Corinthians viveu essa situação desde o início do campeonato. Mas a decisão se daria em campo.

Os dois jogos da decisão aconteceram no Morumbi. O primeiro foi decidido em um detalhe: mais uma bola parada de Neto. Dessa vez, o meia cobrou falta para a área e Wilson Mano concluiu para garantir a vitória corinthiana por 1 a 0. Novamente, o Timão tinha a vantagem do empate no duelo de volta.

No dia 16 de dezembro, o Morumbi encheu com mais de 100 mil pessoas, a imensa maioria de corinthianos. O cenário estava formado para uma conquista histórica. Cientes disso, os jogadores do Corinthians entraram em campo para dar a vida por aquele título. No primeiro tempo, aguentaram uma grande pressão do São Paulo. A euforia veio no segundo tempo, aos nove minutos.

Quem viu não esquece. Tupãzinho recebeu pela direita, deu uma caneta no marcador e tocou para Fabinho, livre na área. O ponta chutou ao gol, para defesa parcial de Zetti. Mas o goleiro do São Paulo deu rebote. O eterno talismã foi de carrinho para botar a bola nas redes, em uma jogada de pura raça e garra, que traduzia o que era aquele time alvinegro. Um dos lances inesquecíveis da história centenária do Corinthians.

O 1 a 0 foi mais do que suficiente. Com um elenco que venceu partidas dentro de campo e a desconfiança de alguns fora, o Corinthians, enfim, era campeão brasileiro. A partir daquele ponto, não pararia mais de comemorar conquistas nacionais.

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